COM UMA VITÓRIA SOBRE O NEWCASTLE POR 17-5 OS SARACENS TORNAM-SE os primeiros vencedores da nova competição lançada na Inglaterra.
E se afinal o que interessa numa competição é encontrar o seu vencedor, este caso é uma excepção, já que a curiosidade e expectativa que levantou ultrapassa largamente a mera questão de um resultado desportivo.
O que está em causa é a procura – desta vez parece que bem sucedida – de um novo figurino de competições, que permita harmonizar as duas mais significativas marcas de rugby: VII e XV.
Nos últimos anos, mas particularmente desde o anúncio da integração dos 7’s no programa olímpico, que se têm multiplicado as tentativas, em todo o mundo, de conciliar as duas variantes, sem que no entanto se tenha ainda encontrado um modelo que agrade a “gregos e troianos”.
Mas vamos por partes e lembremo-nos que até há pouco tempo, os torneios de sevens eram organizados como “festivais” de fim de ano, em que a um rugby de altíssima competição se aliava a camaradagem e a descontração próprias de um rugby de fim de estação.
E se bem que a IRB venha há mais de uma dúzia de anos a organizar as Séries Mundiais, com o calendário espalhado desde Dezembro a Maio, dando aos 7’s uma dimensão “paralela” às tradicionais competições de XV, a verdade é que apenas com a transferência do Middlesex 7’s de Maio para Agosto (em 2002) – o mesmo é dizer do final de uma época, para o início de outra – os sevens começaram a entrar na preparação das equipas antes de uma longa época, e não apenas como um exercício de descontração após uma longa época…
No início da época passada, defendemos nestas páginas que a época desportiva em Portugal deveria iniciar-se com um período dedicado aos sevens, que traria entre outros benefícios, a possibilidade de começar o ano mais cedo, atrair com mais facilidade e mais cedo os jogadores aos treinos, preparando-os assim para a longa e dificil época de XV, mas também trazendo mais jogadores à prática da modalidade, e dando uma enorme visibilidade ao Jogo de Rugby, numa altura do ano em que as outras modalidades desportivas estão ainda aquecendo motores.
Infeliszmente esta sugestão não foi apreendida pela FPR, que decidindo embora iniciar a época mais cedo, resolveu começá-la diretamente com as competições de XV mais importantes, e mantendo os 7’s relegados apenas para o final do ano, mesmo após as sucessivas vitórias no europeu e no mundial universitário, que mais cedo ou mais tarde vão impôr que a direção federativa dê uma maior importância à variante reduzida.
Teria sido uma extraordinária oportunidade para que o processo de desenvolvimento dos sevens passasse a ser conduzido activamente pela FPR, deixando esta de andar a reboque dos acontecimentos e passando a controlá-los.
Claro está que não foi a última oportunidade, talvez porque ainda haja algum tempo para os Jogos Olímpicos, e treinadores e jogadores vão-se encarregar de manter a chama bem viva, mas de qualquer forma o tempo vai passando e não tarda será tarde demais.
Felizmente que os ingleses voltaram a dar o exemplo de como as coisas podem ser feitas, e duas importantes iniciativas levadas a cabo este ano, representaram duas opções sérias que mercem toda a nossa atenção.
Por um lado tivemos a primeira edição das séries nacionais do Reino Unido, se bem que neste primeiro ano apenas tenha incluído etapas inglesas, com a participação de 12 equipas, das quais nove especialmente constituídas para o efeito, na base das velhas equipas de convite hoje altamente profissionalizadas, a que se juntaram em cada jornada, três equipas convidadas, não integrando a classificação do Circuito.
Segundo o que pudemos acompanhar na imprensa da especialidade, e de algum alheamento dos canais de televisão, talvez tenha faltado a este modelo, embora de elevado nível competitivo, uma maior adesão do público, até pela própria natureza das equipas participantes.
Fazendo uma comparação com o futebol, seria o mesmo que termos um jogo entre duas equipas de estrelas – os amigos do Cristiano Ronaldo contra os amigos do Messi – que iriam com certeza apresentar um futebol de elevadissima qualidade, mas que nunca teria o mesmo sabor de um Benfica-Sporting ou de um Belenenses-Porto, e cujo reflexo se veria no número e no entusiasmo dos espectadores.
A segunda experiência que se levou a cabo em Inglaterra foi, precisamente a competição que os Saracens venceram ontem à noite, numa prova disputada entre as 12 equipas da Premiership, e que teve desde o princípio o inequívoco apoio do público afeto aos diversos participantes e da TV, com a transmissão pela Sky de todas as suas etapas.
Pelo que se viu na imprensa especializada, a competição foi um sucesso, e ajudou a abrir o naipe de opções e a demonstrar que não existem razões objectivas para continuar a estúpida campanha opondo os VII e o XV, antes convém utilizar o bom senso e a defesa intransigente do Jogo de Rugby como um todo, por forma a encontrar soluções equilibradas que satisfaçam todos os interesses envolvidos.
Em Portugal uma competição de sevens no início de época, com a participação das equipas, pelo menos, da Divisão de Honra e da 1ª Divisão, poderia não apenas servir para atrair novos praticantes, ou colaborar na preparação dos jogadores para uma longa época desportiva, mas também para ajudar a resolver os problemas financeiros dos diversos clubes, já que está mais que provada a natural apetência dos mídia e dos patrocinadores pelos sevens, e com o natural afluxo de público e de exposição televisiva, maiores meios financeiros apareceriam.
O que mais importa reter desta história, é que a solução dos sevens também no início da época é viável e deve ser ponderada séria e cuidadosamente.
Se deve ser o campeonato nacional ou outro torneio qualquer, compete aos clubes dar a sua opinião, mas interessa manter o assunto em pauta e não deixar que uma qualquer solução de ocasião venha a surgir como luminosa salvação.
Os 7’s já trouxeram muitas alegrias ao rugby português, desde os tempos do velho e saudoso Lisboa Sevens, até aos mais recentes resultados nos já referidos Europeu e Mundial, para que continuemos a encará-los como um sub-produto.
Afinal, digam-me lá, faz algum sentido deixar um desporto em que somos os melhors da Europa e uns dos melhores do Mundo ao Deus dará, apenas porque se levantam preconceitos em relação a um sangue mais azul do rugby de XV?